A história da Bianca Medeiros é a história de muitos pacientes que convivem com dor intensa sem receber um diagnóstico adequado. Ela chegou ao consultório após meses enfrentando uma dor que não correspondia ao exame físico, nem aos achados de imagem. Era uma dor desproporcional, persistente, incapacitante — que afetava sua rotina, seu sono, sua autonomia e sua vida emocional.
Bianca tinha Síndrome de Dor Complexa Regional (SDRC).
Embora seja considerada uma condição de baixa prevalência, a SDRC é na prática subdiagnosticada — não porque seja rara, mas porque exige um olhar clínico específico sobre o funcionamento do sistema nervoso.
O que realmente acontece na SDRC
A SDRC não é “apenas uma dor forte”. É um distúrbio complexo em que ocorre uma dissociação entre o estímulo e a resposta do sistema nervoso. O cérebro passa a interpretar sinais inofensivos como dor intensa.
Esse fenômeno envolve:
- Sensibilização periférica: os nervos da região afetada ficam hiperativos;
- Sensibilização central: o sistema nervoso central amplifica o sinal doloroso;
- Alterações autonômicas: mudanças de temperatura, cor e sudorese do membro;
- Distúrbios motores: rigidez, tremor e fraqueza;
- Alterações tróficas: pele brilhante, unhas quebradiças, edema persistente.
A dor deixa de ser um sintoma e se transforma em uma doença do sistema nervoso.
Quando a medicina convencional não é suficiente
A SDRC exige uma abordagem multidimensional: fisioterapia específica, dessensibilização, medicamentos moduladores e intervenções.
Mas pacientes refratários, como Bianca, continuam presos ao ciclo da dor neuropática — mesmo após múltiplos tratamentos.
Neuroestimulador medular: modulando a dor na origem
Após avaliação detalhada, concluímos que a melhor estratégia seria implantar um neuroestimulador medular — dispositivo que modula a atividade elétrica da medula espinhal e reorganiza a transmissão dos sinais dolorosos.
Ele atua para:
- reduzir a amplificação exagerada da dor;
- normalizar o sistema nervoso simpático;
- restaurar mobilidade ao diminuir a dor no movimento;
- melhorar sono, humor e autonomia.
É uma das intervenções com mais evidência para SDRC refratária.
O resultado: quando a dor finalmente perde força
Bianca apresentou melhora importante da dor, da mobilidade e da qualidade de vida. O impacto emocional também muda: medo, ansiedade e frustração cedem quando o tratamento certo é finalmente aplicado.
Para quem esta história precisa chegar
A SDRC segue sendo pouco reconhecida. Muitos vivem anos de sofrimento evitável. A mensagem é clara: existem tratamentos eficazes — e reconhecer cedo faz toda a diferença.
Referências
- Harden RN, et al. Complex Regional Pain Syndrome: Diagnostic and Treatment Guidelines. Pain Med. 2013.
- Kemler MA, et al. Spinal Cord Stimulation in Reflex Sympathetic Dystrophy. NEJM. 2000.
- Goebel A, et al. UK Guidelines for CRPS Diagnosis and Management. Pain. 2018.
- Deer TR, et al. Neurostimulation for Chronic Pain. Neuromodulation. 2014.
- Stanton-Hicks M. Complex Regional Pain Syndrome. Lancet Neurol. 2006.