Uma das dúvidas mais comuns entre quem sofre com dor crônica é entender de onde realmente vem a dor. Nem toda dor que “pega o joelho” vem da articulação — e nem toda dor “nas costas” é apenas muscular. Identificar corretamente a origem do problema é o primeiro passo para um tratamento eficaz e duradouro.
Dor articular: o desgaste silencioso
A dor articular costuma ser profunda, localizada e piorar com o movimento. Em muitos casos, vem acompanhada de rigidez matinal, estalos e inchaço — sinais típicos de inflamação dentro da articulação.
As causas mais comuns incluem:
- Artrose e desgaste da cartilagem
- Sinovite (inflamação da membrana articular)
- Lesões localizadas da cartilagem
- Inflamações secundárias pós-trauma
O diagnóstico é feito por meio de exame físico e exames de imagem, como radiografia e ressonância magnética. O tratamento pode envolver infiltrações, fisioterapia e terapias regenerativas, como PRP (plasma rico em plaquetas), BMA (aspirado de medula óssea) e SVF (fração vascular estromal) — que ajudam a reduzir a inflamação e estimular a regeneração tecidual.
Dor muscular: quando o corpo reage à sobrecarga
A dor muscular tende a ser superficial, difusa e relacionada a esforço físico ou má postura. Ela melhora com o repouso e piora com a movimentação contínua.
Esse tipo de dor geralmente está ligado a:
- Fadiga muscular e sobrecarga repetitiva
- Contraturas e pontos-gatilho (áreas de tensão muscular persistente)
- Deficiências posturais e movimentos compensatórios
Embora muitas vezes seja benigna, a dor muscular crônica pode mudar o padrão de movimento e causar sobrecarga em outras articulações, perpetuando o ciclo de dor e limitação funcional.
O tratamento envolve alongamento, fortalecimento muscular, reeducação postural e, em alguns casos, técnicas intervencionistas como liberação miofascial ou bloqueios locais.
Dor nervosa: o sistema elétrico em curto
A dor nervosa (ou neuropática) é diferente das demais. É descrita pelos pacientes como uma dor em queimação, formigamento, choques ou irradiação — podendo se espalhar para braços, pernas ou glúteos.
Ela surge quando há compressão ou irritação das raízes nervosas, como ocorre em:
- Hérnias de disco
- Estenose de canal vertebral
- Síndrome do piriforme
- Neuropatias periféricas
Essas dores costumam resistir a analgésicos convencionais e respondem melhor a bloqueios seletivos, radiofrequência pulsada e neuromodulação elétrica. O diagnóstico pode incluir ressonância magnética e eletroneuromiografia, que identificam a função e a integridade dos nervos afetados.
Por que é tão importante identificar o tipo de dor
O sucesso do tratamento depende de atingir a causa verdadeira da dor. Uma dor nervosa tratada como articular dificilmente melhora; uma contratura muscular ignorada pode manter o processo inflamatório ativo.
Por isso, é essencial uma avaliação médica detalhada, que combine:
- História clínica completa
- Exame físico criterioso
- Exames complementares de imagem e função neuromuscular
Com o diagnóstico preciso, é possível adotar o tratamento mais adequado — desde fisioterapia e reabilitação até terapias regenerativas e intervencionistas, sempre com foco na recuperação funcional e na melhora da qualidade de vida.
Referências
Woolf CJ. Central Sensitization: Implications for the Diagnosis and Treatment of Pain. Pain. 2011;152(3 Suppl):S2–S15.
Jensen TS, et al. Pain Mechanisms in Musculoskeletal Disorders. Lancet Neurology. 2021;20(9):693–707.
Dieppe PA, et al. Osteoarthritis and Related Disorders. BMJ. 2015;350:h1225.