A dor crônica é uma das condições médicas mais desafiadoras da atualidade. Estima-se que mais de 30% da população adulta sofra de dor musculoesquelética persistente, muitas vezes sem encontrar alívio com analgésicos, fisioterapia ou anti-inflamatórios. É nesse cenário que entram os bloqueios de dor, procedimentos minimamente invasivos que atuam diretamente na transmissão nervosa do estímulo doloroso.
Como funciona um bloqueio de dor
A dor é uma informação elétrica que percorre as fibras nervosas até o cérebro. Os bloqueios têm como objetivo interromper temporariamente esse circuito, reduzindo a percepção da dor e permitindo que o paciente volte a se movimentar, enquanto o processo inflamatório é controlado.
Existem diferentes tipos de bloqueios, e cada um tem uma finalidade específica:
- Bloqueio químico: realizado com anestésicos locais e corticosteroides aplicados próximos ao nervo, raiz nervosa ou articulação afetada. É muito eficaz para dores articulares (como no joelho e quadril) e lombalgias mecânicas.
- Bloqueio por radiofrequência: técnica mais moderna, que utiliza ondas eletromagnéticas para interromper seletivamente a condução elétrica dos nervos. Pode ser térmica (lesa o nervo temporariamente) ou pulsada (modula a atividade sem lesão). Tem bons resultados em casos de dor facetária na coluna e artrose avançada do joelho.
- Bloqueio elétrico e neuromodulação: menos conhecidos, mas promissores, utilizam estimulação elétrica percutânea para alterar o limiar de sensibilidade dos nervos, especialmente útil em dores neuropáticas.
Por que o bloqueio é mais que “um alívio temporário”
Muitos pacientes acreditam que o bloqueio é apenas uma forma de “anestesiar” a dor, mas ele tem papel terapêutico real: rompe o ciclo inflamação–dor–espasmo muscular, permitindo que o corpo se recupere. Além disso, o alívio obtido facilita o fortalecimento muscular e a reabilitação funcional, reduzindo a chance de cronificação.
A indicação é individual e deve sempre partir de uma avaliação precisa da origem da dor — algo que exige integração entre ortopedia, imagem e fisiologia da dor.
Referências
Cohen SP, et al. Interventional Techniques for Pain Management in Orthopedics. BMJ. 2022;376:e066989.
Kapural L, et al. Radiofrequency Ablation for Chronic Pain: Evidence-Based Review. Pain Practice. 2021;21(5):531–546.
Manchikanti L, et al. Comprehensive Review of Therapeutic Facet Joint Interventions in Managing Chronic Spinal Pain. Pain Physician. 2020;23(3):S1–S127.