Durante muitos anos, terapias regenerativas como PRP (plasma rico em plaquetas), BMA (aspirado de medula óssea) e SVF (fração vascular estromal) eram restritas a um pequeno grupo: atletas de elite e pacientes acompanhados em grandes centros de medicina esportiva. O motivo era simples: demanda alta, custo elevado, equipamentos restritos e pouca padronização científica.
Nomes como Cristiano Ronaldo, Rafael Nadal, Serena Williams e Kobe Bryant utilizaram essas técnicas para tratar lesões musculares, tendinopatias e desgaste articular, conseguindo reduzir tempo de afastamento e prolongar sua vida competitiva.
Mas o cenário mudou — e de forma radical.
A evolução científica que tirou a medicina regenerativa da elite e levou ao consultório moderno
O que antes era visto como experimental passou, ao longo da última década, a ser objeto de estudos controlados, protocolos bem definidos e grande padronização técnica.
Os pilares científicos dessa mudança:
- PRP: capacidade de modular inflamação, estimular angiogênese e favorecer reparo tendinoso e cartilaginoso.
- BMA: presença de células progenitoras mesenquimais e fatores de crescimento que regulam o microambiente inflamatório das articulações.
- SVF: rica em células estromais derivadas da gordura, eficaz em artrose precoce e lesões degenerativas.
Com mais segurança, evidência e padronização técnica, essas terapias se tornaram adequadas — e acessíveis — para o paciente comum.
O que essas terapias realmente fazem dentro da articulação
É fundamental desfazer o mito de que PRP ou BMA “regeneram” cartilagem no sentido literal. O que acontece é mais sutil — e biologicamente muito mais relevante.
- Redução da inflamação crônica (modulação de IL-1 e TNF-alfa).
- Melhora do equilíbrio metabólico das células locais.
- Aumento da lubrificação articular por estímulo à produção de ácido hialurônico.
- Criação de um microambiente favorável ao reparo tecidual.
É fisiologia aplicada, não um milagre biológico.
Como isso se traduz na prática clínica
Os benefícios são consistentes em pacientes com:
- artrose leve a moderada do joelho
- lesões degenerativas do menisco
- dor facetária na coluna
- tendinopatia patelar ou do manguito rotador
- impacto femoroacetabular
- lesões osteocondrais
A melhora da dor costuma ocorrer em semanas; já as mudanças estruturais surgem ao longo de meses.
Evidências mostram que essas terapias podem reduzir a necessidade de cirurgia ou postergar intervenções maiores.
Medicina responsável: indicar certo, na hora certa
A medicina regenerativa não é para todos, nem deve substituir cirurgias necessárias. A indicação depende de:
- grau de degeneração articular
- biomecânica e alinhamento
- intensidade da dor
- resposta a tratamentos conservadores
- nível de atividade
- expectativas funcionais
Quando aplicada com critério, é uma ferramenta poderosa. Quando mal indicada, perde valor.
Um novo capítulo da ortopedia: menos bisturi, mais biologia
A medicina regenerativa preenche o espaço do paciente com dor e degeneração inicial a moderada, que deseja evitar cirurgia e tem grande potencial de melhora com terapias biológicas.
A ortopedia moderna caminha para:
- mais ciência
- mais biologia
- mais precisão
- menos intervenção desnecessária
O que antes era exclusivo de atletas milionários agora está acessível para qualquer pessoa que busca movimento, autonomia e menos dor.
Se existe uma possibilidade real de aliviar dor e recuperar função sem bisturi, vale conversar sobre isso.
Referências bibliográficas
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